Na era dos tons neutros e da estética minimalista que domina boa parte das propostas contemporâneas de interiores, a escolha de pintar a sala com o tom vermelho Valentino pode parecer ousada. Mas, para um casal apaixonado por arte, história e memória, essa decisão foi menos sobre tendência e mais sobre significado.
A cor, desenvolvida pela marca Suvinil, remete ao universo sofisticado da alta-costura italiana e carrega consigo um peso simbólico denso: não é apenas um vermelho, mas um vermelho que conta histórias.
Cinema: quando a cor é linguagem
A primeira fagulha de inspiração surgiu da sétima arte. Mais precisamente de Gritos e Sussurros (Viskningar och rop, 1972), filme emblemático do diretor sueco Ingmar Bergman. Nele, o vermelho não está apenas nas paredes, mas atravessa a narrativa como extensão dos sentimentos das personagens. O cenário escarlate — opressivo, protetor, sensorial — representa a dor, o silêncio e o vínculo entre três irmãs que vivem um luto íntimo. “Mais do que uma cor, ele comunica estados de espírito”, relatam. A força dessa paleta ficou para sempre registrada em suas memórias.
História e imponência em tapeçarias reais
A segunda camada dessa escolha veio de uma viagem à Hungria, quando o casal visitou o Palácio de Gödöllő, residência de verão da imperatriz Elisabeth da Áustria, a famosa Sissi. Nos aposentos da ala imperial, o vermelho surgia novamente — em paredes, cortinas e tecidos luxuosos. Em diálogo constante com o dourado dos entalhes e os móveis imponentes, o tom criava uma atmosfera de nobreza serena, atemporal. “O tempo ali parecia respirar por meio da cor”, lembram, descrevendo a sensação de estar imersos em um espaço onde o passado e o presente se tocavam silenciosamente.
Afeto e permanência: a cor como marca do lar
O vermelho também tem lugar de destaque nas lembranças do marido, que cresceu em contato com a arquitetura clássica europeia. Ele sempre admirou ambientes onde a cor era protagonista — de bibliotecas a salões de música. Quando os dois se uniram, esse desejo se transformou em projeto: pintar uma das principais áreas da casa com a mesma intensidade cromática que tanto os encantava.
A experiência deu certo no primeiro apartamento do casal, onde a cor revelou seu poder acolhedor. “Descobrimos que o vermelho, longe de ser excessivo, nos envolve. Ele aquece, abraça e torna os espaços mais íntimos.” Desde então, o vermelho Valentino se tornou uma espécie de assinatura afetiva — um símbolo de identidade e conexão emocional com o lar.
Hoje, na nova casa, as paredes da sala novamente ostentam o mesmo tom. Ainda que o ambiente esteja em processo de finalização — cortinas por instalar, quadros por pendurar — a sensação de pertencimento já se faz presente. “A cor cumpriu seu papel: transformou o espaço num reflexo das nossas referências — íntimas, artísticas e afetivas”, completam.
Quando a cor fala por nós
Mais do que um elemento estético, a escolha de uma cor para o lar pode se tornar um gesto simbólico. O vermelho, nesse caso, é linguagem. É história. É corpo. É afeto. Ele traduz vivências compartilhadas, referências acumuladas e sonhos construídos a dois.
Ao contrário do que muitos imaginam, tons intensos não precisam ser evitados. Quando escolhidos com intenção e afeto, podem transformar a atmosfera de um ambiente e marcar a memória sensorial de quem vive ali — e de quem visita.
@alex_loureno